História em figurinhas
- Kauã de Freitas
- 13 de mai.
- 6 min de leitura
Ilustrador conta sua experiência em representar a cidade em traços
Autor: Kauã de Freitas

Artista plástico, ilustrador e autor de obras como caricaturas da arquitetura e Curitiba em Traços, Simon Taylor lança seu mais novo projeto “Curitiba em Figurinhas”. Com quase 30 anos de experiência como chargista, Simon eternizou pontos turísticos da capital paranaense de um jeito lúdico e criativo, retratando também a arquitetura e cultura da região.
Lançado no dia 28 de novembro de 2024, o álbum é composto por 400 figurinhas com imagens da capital paranaense. A publicação pode ser encontrada nas bancas espalhadas pela cidade, nas lojas oficiais da capital e nos encontros de troca de figurinhas realizados nas praças, shoppings e livrarias. Em entrevista para o Marco Zero, Simon detalha sua trajetória, sonhos, transformações e trabalhos futuros.

Você assina as ilustrações de um álbum de figurinhas que retrata a história e a identidade de Curitiba, um projeto de sua autoria. Como foi o processo de produção desse material?
Eu desenho desde que eu sou muito pequeno, mas comecei a minha carreira profissional em 1996, como chargista político de um jornal que não existe mais, e há 13 anos, eu comecei a desenhar na rua e fundei um grupo chamado Urban Sketchers Curitiba, que é um grupo mundial de pessoas que desenham as suas cidades, fazendo desenhos de observação. E um amigo meu, que é o Robson Krieger, na onda ali do sucesso do livro, chegou para mim e disse: “Já pensou num álbum de figurinhas? Aí eu disse: “Olha, não só pensei como eu e a minha esposa, Kelly [Sumeck], chegamos até a fazer um projetinho do álbum uma vez, mas assim, a gente tem muitas ideias e de uma ideia ser ideia e tornar realidade é um longo processo.” E ele: “Ah, então perfeito, vamos finalizar esse projeto e vamos apresentar a ideia para os outros”. Chegando na Urbs (Urbanização de Curitiba), em outubro (2024) chegou na mão do presidente da URBs, que é o Ogeny Maia, ele levou no dia seguinte para o então prefeito Rafael Greca. Mas na nossa intenção, o álbum seria para metade do ano (2025), porque o álbum é um projeto de fôlego. Mas, chegando na prefeitura, o prefeito disse: “não, não, eu quero agora. Está muito bom!”
Bom, por sorte era difícil, mas era possível, porque com 13 anos de desenhos, desenhando Curitiba todo final de semana, eu já tinha quase todo o material. Então a Kelly fez todo o projeto gráfico, a pesquisa do álbum, toda a estruturação. Eu devo ter feito algo entre 20 e 30 desenhos específicos para o álbum de pontos que eram muito importantes que faltavam, no meu entendimento, para o álbum. E ele foi feito ao toque de um mês e meio, quase dois, nós estávamos com o álbum nas mãos. Lançamos no dia 28 de novembro em uma festividade da URBs, que era os 50 anos do BRT (Transporte Rápido por Ônibus) que já estava prevista e a gente encaixou ali, e desde então, estamos trabalhando forte nesse álbum, que está sendo um grande sucesso.
Como tem sido a recepção pelo público curitibano?
O retorno que a gente está tendo assim, é muito, muito, muito positivo. As pessoas estão adorando, ele está vendendo muito bem. Eu considero um grande sucesso até o momento, principalmente pelas vendas e pela receptividade das pessoas, né? As pessoas estão amando o álbum, assim, tanto as crianças quanto os mais velhos. Diria que os mais velhos estão gostando mais até, porque o álbum realmente tem essa característica de ter a arte, e de trazer as curiosidades e história e de não ter somente aqueles pontos turísticos mais óbvios, como também as curiosidades de Curitiba, que é uma coisa que eu considero muito legítima, porque 95% dos desenhos que estão no álbum, eles foram feitos no local com a minha interação.
Além de valorizar os pontos turísticos da nossa cidade, o álbum de figurinhas também resgata um pouco da tradição da ida às bancas de jornais e aindapromove a interação do público para a troca de figurinhas.
E como você escolhe os temas dos seus desenhos?
Quando a gente começa a fazer isso, é uma coisa muito apaixonante. Mas você está um pouco limitado, você sempre pensa naquela coisa do Jardim Botânico, do Oscar Niemeyer, que são maravilhosos, mas são mais óbvios. Mas a medida do passar dos anos a nossa cabeça vai mudando, descobrindo que a gente só passa pela cidade. E quando a gente se determina a chegar e ficar duas horas no mesmo local, que é o tempo dos encontros, observando as pessoas, sei lá, a sombra se movendo, de repente sai alguém da casa e conta a história da casa, traz fotos e convida para entrar na casa... Você começa um processo de se apaixonar verdadeiramente por Curitiba.
Hoje eu me sinto basicamente um turista dentro de Curitiba. E isso desperta um olhar para cidade que eu não tinha antes. E agora, assim, para eu andar por qualquer rua, não interessa se é uma grande avenida ou se é uma ruazinha pequenininha, num bairro distante, eu estou sempre de olho em qualquer casinha de madeira, já é “um nossa que legal que seria desenhar isso”.
Vendo os seus trabalhos é possível perceber a sua conexão com a cidade. Poderia falar um pouco sobre como funciona esse trabalho e como ele pode contribuir para aprofundar a relação das pessoas com o espaço onde vivem? Sim, sim, eu acredito que quando a gente consegue um resultado como esse, que é um álbum, que é algo que tem uma grande visibilidade, ele tem uma faceta. Geralmente tem o público mais velho, que é pego pela relação emocional e com os locais. Poxa, quanta gente que chega para mim: “Nossa, senhor, nessa casa aqui aconteceu tal coisa, nessa igreja eu me casei, ou essa aqui é a casa da minha família e tal”. E tem essa troca das pessoas mais velhas em ensinarem para as mais novas, essa coisa da localização, de tirar elas um pouco do celular, de trazer um pouco para o analógico, para o mundo real e de criar essa relação de educação, mas uma educação bacana.
Não é aquela educação chata, é uma educação que acontece enquanto você está se divertindo, colando as figurinhas, que é uma atividade lúdica, interessante e a criançada vai ali conhecendo Curitiba. Eu penso que o álbum, os meus livros e a minha arte vêm nesse sentido, um movimento que foi acontecendo naturalmente de valorização da cidade.
Durante a trajetória, você presenciou muitas transformações na arquitetura da cidade e transformações tecnológicas, que mudaram os hábitos do consumo cultural. Ainda há espaço para as artes visuais impressas?
Eu não só acredito como eu estou testemunhando. É aquela velha lei: toda ação corresponde a uma reação de força igual e inversa. Eu acho que justamente pelo excesso de tecnologia que a gente está vivendo, chega um momento que isso “empapuça”. Então, o que eu vejo hoje em dia? Eu vejo um retorno, não só de gente da minha idade, como de pessoas muito mais novas olhando discos de vinil, para a fotografia analógica revelada, para o desenho sendo feito com tinta, com papel, né, para os passeios a pé pela cidade. Sabe, eu vejo tantas para volta aos livros impressos em gráficas menores e tal.
Então, eu acredito que o seguinte, claro que a tecnologia está aí, é irreversível, só vai aumentar. Mas justamente por causa disso, a gente começa a ter nichos interessantes de respiro. Todo mundo precisa de um respiro, sabe? Porque isso não é uma impaciência. E nesse sentido, vem até uma relação, é, curiosa. Tem um campo muito rico em ampla expansão, assim, para essas atividades físicas, analógicas, como uma forma de contrapor, não de bater, ninguém vai tirar o espaço de ninguém, mas é de trazer um pouco de equilíbrio para um mundo excessivamente tecnológico.
Podemos esperar novas edições das obras caricaturas da arquitetura e novos álbuns de figurinhas em um futuro próximo?
Podem esperar muito. A gente que é artista, o nosso caminho ele não é linear. O artista tem só um espaço, ele vai criando o seu caminho de forma às vezes bem sinuosa, então vão pintando do projeto e a gente vai, se empolgando com eles.
Tem um que é mais extenso, que eu acredito que seja para daqui uns dois anos, mas que a gente já começou, que é o projeto do álbum Paraná em Figurinhas, que seria o próximo passo lógico. Então, ter agora o Curitiba em Figurinhas, a gente pretende fazer um álbum que abrange todo o estado do Paraná, com as com as figurinhas das principais cidades do estado. E um novo livro de um sonho antigo meu, que é um livro centrado nas nossas três cidades históricas aqui do litoral, que é Antonina, Morretes e Paranaguá.
Projeto é o que não falta. A gente não para, toda a semana produzindo desenhos de encomenda para muitas famílias que pedem desenhos das suas casas e dos seus comércios.

PELAS BANCAS DA CIDADE
O álbum “Curitiba em Figurinhas” está à venda em mais de 150 pontos espalhados pela cidade, entre as lojas oficiais a rede Curitiba sua linda, livrarias Curitiba e as bancas de jornais já possuem o material. Cada álbum custa R$ 19,90 e o pacotinho contendo cinco figurinhas diversas custa R$ 5
Além de trazer os desenhos dos icônicos pontos turísticos da cidade, também são retratadas as obras de Poty Lazzarotto e a gastro
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