Direitos distantes para pessoas trans
- Kauã de Freitas
- há 1 dia
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Atualizado: há 3 horas
Autor(a): Laura Gaspar

Uma garota pode ter o melhor currículo. No momento que bater o olho e ver que é uma menina trans, aquilo tudo cai por terra, como se ela nem existisse”. Essa fala é de Joyce Silva, uma mulher trans, de 30 anos, ao comentar o preconceito sofrido no mercado de trabalho.
Joyce conta que sempre soube que era diferente e foi experimentando várias coisas até descobrir que era uma mulher trans. Para ela, as maiores dificuldades de uma garota trans são o preconceito e a acessibilidade ao trabalho, saúde e educação.
Com dificuldade em ter acesso a um endocrinologista para acompanhá-la, Joyce começou a terapia hormonal por conta própria e com isso teve um turbilhão de emoções. Cada vez que vivia uma cena de preconceito, descontava nos hormônios, mas hoje segue com acompanhamento médico.
Raphael Silva, de 28 anos, teve experiência semelhante. Desde criança se identificou como garoto, mas sempre teve muito medo pelo julgamento de pessoas próximas. No começo de sua transição, sentiu medo de como as pessoas em sua volta reagiriam ao processo. Erros do pronome de tratamento o faziam ficar muito triste. Os olhares das pessoas também o incomodavam bastante.
Com apoio de um amigo, Raphael narra que conseguiu superar as dificuldades. Ele trabalha em um hospital, o que facilitou seu acesso à terapia hormonal com acompanhamento de endocrinologista e psicólogo. Assim, ele conseguiu se adaptar no ambiente de trabalho e conta que teve apoio dos colegas. Hoje em dia, não sente mais tanta discriminação como no começo, mas diz: “Depois que comecei a transição, vejo realmente como é o preconceito, e como lutamos para ter o nosso lugar.”
Para a endocrinologista Lívia Serrano, quando uma pessoa a procura para fazer a terapia hormonal ela já tomou essa decisão, geralmente já tem um acompanhamento psicológico ou ela pede que comece. Com o perfil de que querem se cuidar, as maiores dúvidas dos pacientes que chegam é sobre como vai ser o processo, os riscos, quais as mudanças. “Mas o maior medo desses pacientes é o preconceito”, afirma a médica.
O acompanhamento médico é importante em qualquer situação de uso de medicação crônica, igual a uma paciente de hipertensão ou diabetes, por exemplo, que precisa de exames regulares, avaliação e indicações de pouco risco. Segundo Lívia, a pessoa que se medica por conta própria, muitas vezes usa doses maiores do que deveriam, pela ansiedade de que o processo seja mais rápido, não avaliando os riscos existentes.
Ela complementa que ainda existe muito preconceito e que as pessoas não sabem como abordar as pessoas trans. Isso poderia ser resolvido com coisas simples, como perguntar à pessoa de que maneira gostaria de ser chamada, ou se quer usar banheiros unissex. É uma forma de acolher a pessoa, na opinião da médica
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