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Analfabetismo entre pessoas pretas é duas vezes maior que entre pessoas brancas no estado de São Paulo

Pesquisa realizada pelo IBGE aponta taxa de analfabetismo de 6,6% entre pessoas autodeclaradas pretas, mais que o dobro dos 3,1% entre pessoas brancas

Livros escolares distribuídos para alunos do ensino fundamental. Foto: Henrique José Pereira


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, a taxa de analfabetismo no Brasil caiu dos 6,1% que apresentou em 2019 para 5,6%, totalizando 9,6 milhões de pessoas que não sabiam ler e nem escrever. No estado de São Paulo, o índice é de 2,2%. Quando se analisam os dados pelo fator de raça/cor, existe uma grande disparidade entre pessoa brancas e pretas ou pardas.


O DataSUS traz em seu banco de dados a taxa de analfabetismo no estado de São Paulo de acordo com cada raça/cor, além de também disponibilizar os índices de acordo com a faixa etária. Segundo as estatísticas da plataforma, a taxa de analfabetismo entre pessoas pretas de 15 anos ou mais de idade é de 6,6%, mais que o dobro do que os 3,1% que é apontado entre pessoas brancas.

O índice entre pessoas pretas é o segundo maior da pesquisa, sendo menor apenas que o de pessoas indígenas, que é de 6,9%. O terceiro maior foi o de pessoas pardas, com 6,1%. Por outro lado, a taxa que aparece entre pessoas brancas só não é menor do que a de pessoas autodeclaradas amarelas, que é de 2,2%.


Mais uma vez de acordo com o IBGE, a diferença nas taxas entre as raças é ainda maior no recorte que traz os índices de todo o país. A pesquisa do Instituto aponta que entre pessoas pretas e pardas com 15 anos ou mais de idade, 7,4% eram analfabetas, mais que o dobro da taxa encontrada entre pessoas brancas (3,4%). Na faixa etária de 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo entre brancos foi de 9,3%, enquanto entre pretos ou pardos ela chegava a 23,3%.



Fonte: DataSUS


Para Éder Sá, pedagogo, formado em filosofia e diretor da Escola Célia Ribeiro Landim, localizada na zona leste de São Paulo, o racismo estrutural ainda presente na sociedade brasileira contribui para que a desigualdade entre as raças permaneça. Ele diz que isso fica evidente na falta de conteúdos que reforcem e façam referência à identidade negra, além da propagação de estereótipos negativos contra pessoas negras.


“Não são realizadas atividades pedagógicas que valorizem, que falem a respeito e reforcem a identidade negra, para que fortaleça a autoestima das crianças negras. Como um homem negro que dirige uma instituição escolar, eu entendo que a baixa autoestima vai fazer com que muitas crianças não se sintam capazes no ambiente escolar, é uma questão que precisa receber atenção”, apontou o diretor.


Fachada da Escola Célia Ribeiro Landim. Foto: Foto: Henrique José Pereira


O professor Lênin Belarmino, formado em história, vê os estereótipos contra pessoas negras como algo que acaba sendo propagado dentro das escolas, seja em forma de violência ou de brincadeira, e que contribui ainda mais para o afastamento destas pessoas dos estudos.


“Muitos estereótipos negativos contra pessoas negras acabam circulando e ganhando força até mesmo no ambiente escolar por meio de brincadeiras”, diz. “É um racismo recreativo que acontece entre as crianças, com a permissividade de adultos e que acaba sendo fator determinante nesta desigualdade vista na taxa de analfabetismo”, finaliza.


A importância de figuras representativas para os jovens estudantes negros


O estudante Ryan Douglas, 20 anos, atualmente cursa Design Gráfico e relembrou a importância de ver o exemplo de outras pessoas negras que prosperaram para que pudesse aumentar seu foco nos estudos ao longo do ensino médio. O jovem contou um momento que o incentivou a se dedicar ainda mais à escola.


“Eu estava no meu primeiro ano do ensino médio e minha escola divulgou que assistiríamos à uma palestra de um escritor autodenominado Sacolinha. Eu não o conhecia, mas ele começou a contar a sua história e aquilo abriu muitos horizontes na minha mente”, iniciou.


“Ele começou a contar de que veio da periferia, e que o gosto pelos livros transformou sua vida, fazendo até com que ele chegasse a ser entrevistado pelo Jô Soares. Ver aquilo, ouvir uma história de um homem negro que subiu na vida pela própria dedicação e pelos estudos me inspirou muito. Me senti representado e quis trilhar meu próprio caminho”, completou.


O estudante ressaltou o quão importante é apresentar para as crianças e para os adolescentes negros exemplos de pessoas que trilharam um caminho de sucesso em suas carreiras através do aprendizado e trazê-las para perto com palestras desse tipo, motivando os jovens a ter um foco maior nos estudos.

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