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Tatá Vaz

A “Vida” do cigano do rock


O cenário, Arkansas - EUA, o ano, 1975, a situação, se livrar de uma grande enrascada que envolvia drogas até o pescoço e a chance de ficar um bom tempo em cana. Assim o guitarrista e co-fundador da lendária banda Rolling Stones, Keith Richards, começa a relatar sua louca e curiosa saga na auto-biografia Vida, lançada no final de 2010.


O livro é recheado de momentos hilariantes, mas também dramáticas e até mesmo tristes. Richards parte da sua infância em Dartford, subúrbio de uma Londres que ainda carregava a ressaca da Segunda Guerra Mundial. Seu avô, Gus, que lhe mostrou um violão pela primeira vez. A descoberta do rock’n roll, ouvindo os ídolos da época, como Little Richards, Buddy Holly, Eddie Cochran etc. Todas essas passagens são contadas por Keith Richards de uma forma muito saudosa, mas ao mesmo tempo, com seu característico sarcasmo.


Keith nos conta da sobre sua busca para reproduzir em plena Londres, o blues típico de Chicago, o que era uma tarefa difícil, devido a essa remada contra uma maré de modismo ditada pelos Beatles, em pleno início dos anos 1960. Para os fãs dos Stones, existem algumas passagens muito interessantes, como o momento em que Richards conhece Mick Jagger em uma estação de trem em Dartford. Ou quando juntam suas economias com os outros colegas de banda, para poderem bancar a entrada de Charlie Watts na banda, um músico que na época já participava da cena musical... e custava caro!


Para quem é musico, particularmente para os guitarristas, Richards passa uma série de dicas, bem didáticas, sobre as afinações alteradas que ele usou em gravações antológicas da banda. Por exemplo, ele fala sobre o momento que começa a usar a guitarra apenas com 5 cordas, o que possibilitou a criação dos inesquecíveis riffs em músicas como Start me Up, Jumping Jack Flash etc.


Ele fala sobre seu relacionamento com Jagger, que de intenso e de uma amizade muito forte, vai aos poucos, se tornando insuportável. Principalmente quando Keith Richards se livra de 10 anos de consumo de heroína, e busca se inteirar dos assuntos da banda, batendo de frente com um Mick Jagger agora senhor de todos os assuntos relacionados aos Rolling Stones. Os relatos do seu filho, Marlon Richards, contando sobre suas aventuras, acompanhando o pai por turnês mundo afora e as diversas mansões semi-abandonadas que morou pelos Estados Unidos, são passagens muito engraçadas.


Apesar de ter a assessoria do escritor James Fox, é possível ver a “mão” de Keith Richards nas narrativas do livro. Um importante relato sobre os encantos e desventuras de quem criou com uma das mais expressivas bandas de todos os tempos. Richards nos mostra o preço que se paga... mas que no final, vale a pena. Senti sua argumentação um pouco simplista sobre alguns acontecimentos relatados, uma certa desculpa esfarrapada sobre suas pisadas de bola, e não foram poucas!


Um livro sensível, sobre um homem que seguiu seu sonho, pagou o preço, e faz alguns acertos de contas ali mesmo, no livro. O velho cigano do rock fazendo seu acerto de contas. Meu sonho de consumo é chegar na idade deles tocando meu baixo. Só dispenso a heroína!


* Só um detalhe, a escrita dessa coluna durou exatamente o tempo do disco Aftermath.

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