Uma das caras mais conhecidas do jornalismo da tv paranaense, Malu Mazza nasceu no dia 1º. de novembro de 1975 e desde criança já dava dicas que o jornalismo era a sua sina. "Sempre fui curiosa, daquelas que perguntam os porquês das coisas até a exaustão", confessa. Na escola, a jovem Malu chegou a ganhar um prêmio de redação. Além disso, a vocação para a profissão era reforçada com a figura paterna, nada menos que Raul Mazza do Nascimento, símbolo do jornalismo esportivo e comentarista de rádio e TV. Tanta "conspiração" do destino não deixaria Malu seguir outro rumo que não o da notícia.
Jornalista da RPC desde 1998, Malu integra há nove anos o time de repórteres nacionais da Globo. As pautas que mais gostava era de cultura e comportamento, mas foi no noticiário político que ganhou destaque, principalmente cobrindo a Operação Lava Jato. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com especialização em Cinema pela Universidade Tuiutu, Malu garante que trabalhar como repórter é transformador e que, de tanto ser provada com os imprevistos da profissão, hoje não tem medo de perrengue.
Conheça mais sobre o que pensa a repórter, quais seus sonhos e conselhos para os estudantes de jornalismo na série "Fala, Jornalista!". Malu é uma das personalidades da profissão entrevistada na série, publicada quinzenalmente no portal Mediação, sempre com a opinião, dicas e "desabafos" de grandes nomes do jornalismo. Confira a seguir.

Por que o jornalismo?
Sempre fui curiosa, daquelas que perguntam os porquês das coisas até a exaustão. E já ao ser alfabetizada comecei a me aventurar na escrita e a interrogar o mundo. Ganhei prêmios de redação na escola, ao dissertar sobre a fome na Etiópia e sobre a necessidade das pessoas votarem de forma consciente. Isso nos longínquos anos de 1980. Acho que, nesse sentido, a escolha pelo jornalismo foi uma consequência das minhas próprias inclinações. Também não posso desprezar um certo apelo genético. Meu pai, Raul Mazza do Nascimento, hoje aposentado, trabalhou por vários anos em rádio e tv, como cronista esportivo.
Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?
O trabalho de repórter é transformador. Acho que todo jornalista tem que exercer essa função em algum momento da carreira. Ir para a rua, conversar diretamente com as fontes, tomar chuva, ficar no engarrafamento, sujar o pé de lama. Isso forja caráter (risos). No meu caso, estou certa de que minha experiência permite que eu consiga me colocar mais facilmente no lugar do outro. Empatia. E no sentido estritamente pessoal, sou uma pessoa com muito menos frescuras do que quando iniciei na profissão. Não tenho medo de perrengue.
Qual o conselho você daria a Regina estudante de jornalismo?
Aprenda a escutar e desprenda-se dos achismos. Muitas vezes aquilo que a gente acha – e que está no senso comum - não corresponde à verdade. Cabe ao jornalista esclarecer. Seja amigo dos fatos.
Qual o desafio das faculdades de jornalismo hoje?
O principal desafio é formar profissionais multitarefa. O avanço das tecnologias exige que a gente faça de tudo. Não há mais profissionais divididos em quadradinhos – impresso, tv, rádio. Todo veículo produz texto, vídeo, áudio. E nós, profissionais, temos que estar bem preparados para tudo.
O melhor da profissão:
Poder ajudar e inspirar pessoas. Quando acontece é muito bacana.
"O trabalho de repórter é transformador.
Acho que todo jornalista tem que exercer
essa função"
O pior da profissão:
Ainda existem veículos que não valorizam os profissionais. Infelizmente, continuamos vemos gente trabalhando com salário baixo e em condições precárias, sobretudo no interior do Brasil.
Quem são os teus ídolos no jornalismo?
Não diria ídolos, mas referências. Admiro o texto preciso e sensível da Eliane Brum, a sagacidade e experiência do Elio Gaspari, a doçura da Dulcineia Novaes, a firmeza da Délis Ortiz.
Qual a melhor reportagem?
Tenho muito orgulho de ter participado de reportagens da série Diários Secretos, de 2010, vencedora do prêmio Esso. Foi um trabalho investigativo que durou dois anos, feito pela RPC e Gazeta do Povo. Um esquema milionário de desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa foi descoberto. Prova de como o jornalismo é fundamental para a cidadania.
"Porque ele mostra os fatos,
joga luz sobre aquilo que acontece"
O que não pode faltar na mochila de um jornalista?
Carregador móvel de celular. Hoje, a maioria das informações que recebo vem por mensagem de aplicativo. E a gente usa muito a câmera do telefone. Não tem bateria que aguente o dia todo.
O melhor amigo do jornalista é…
A fonte que te responde rapidamente!
O jornalismo vai acabar?
De jeito nenhum. Hoje, ele é inclusive mais necessário do que nunca. Sobretudo o jornalismo que incomoda, que questiona, que revela o que querem esconder.
Por que o jornalismo importa?
Porque ele mostra os fatos, joga luz sobre aquilo que acontece. E não estou falando só das grandes reportagens nacionais. Ao mostrar o buraco da rua, nós levamos uma queixa do cidadão ao poder público. Damos voz àquele que não se sente ouvido. E abrimos a possibilidade de questionar o que está sendo feito – e o que falta - para melhorar o dia-a-dia das pessoas. Nesse sentido, tudo o que se faz – seja na esfera bem local ou mais ampla – importa.
Lugar de jornalista é…
Na rua, atrás da próxima pauta.
Se não fosse jornalista seria…
Seria cantora. Cheguei a estudar canto lírico, mas parei durante a faculdade de jornalismo.
Um recado para os futuros jornalistas:
Não desanimem. Se nossa profissão fosse fácil, não teria graça (risos). No mais, preparem-se. Leiam muito. Da grande reportagem à ficção. Aprendam a ler também a opinião daqueles com quem não concordam. É útil para saber o que e como pensam. E nunca deixem de ser curiosos. Não tenham vergonha de perguntar, mesmo que a pergunta pareça óbvia. E tenham à mão sempre um celular carregado e com câmera boa funcionando. Vai que hoje a notícia passa bem na sua frente...