A última edição da primeira temporada do Pesquisa Aí! recebeu Amanda Zanluca para falar sobre seu projeto "Aos anos que eu vivi: memórias das mulheres paranaenses sobre a década de 1960", desenvolvido para seu trabalho de conclusão de curso na Uninter, orientado pela professora Karine Moura Vieira.
A temática desta edição foi a invisibilidade da história das mulheres, assunto que demorou para ter atenção do mundo acadêmico. "As pesquisas da história da mulher começam a se estabelecer dentro das universidades a partir dos anos 1960. Então, é extremamente recente em termos históricos. A gente tem a história da humanidade como a história do homem", explica a professora Máira Nunes.
Em contraposição à história contada com destaque aos heróis e a grandes figuras masculinas, existe uma linha chamada história dos vencidos ou dos excluídos, dos "sujeitos que não apareceram ainda ou que não foram estudados. A história do banal, do cotidiano, do ordinário", que é o que acontece em muitos casos com as mulheres. A ideia é, então, falar sobre as pioneiras e as mulheres que se destacaram, mas também sobre "a história das mulheres comuns, como todas nós, que são sujeitos da história também", completa a professora.
A escolha da década de 1960 se deu por ser "um marco muito importante na história do Brasil, que é o início da ditadura militar, em 1964. E também porque a gente tem pontos importantes para o contexto feminino, que é a segunda onda do feminismo em 1960 e a chegada da pílula anticoncepcional em 1962", explica Zanluca.
Além disso, a história familiar da jornalista também influenciou. Ela cresceu ouvindo histórias dessa época, em que seu avô atuou como agente militar, enquanto sua avó vivenciou a maternidade em um período de muita opressão. "Assim como a história da minha avó, que não é uma história extraordinária, mas que merece ser contada, existem tantas outras histórias de mulheres que também merecem ser ouvidas", pontua.
Zanluca também diz que ouviu de algumas pessoas que o período da ditadura militar foi bom, e isso a fez querer entender que Brasil era esse que difere tanto do que encontramos nos livros de história. A professora Máira diz que é "muito importante a gente pensar nas diferentes experiências individuais ou coletivas, e as narrativas que são contruídas. Quando a gente trabalha com o passado, seja no viés histórico ou no viés jornalístico, de relatar fatos que já aconteceram, quais são as fontes? De que lugar essas fontes estão falando?".
Ao contrário do que esperava, a jornalista constatou que as mulheres não estavam alheias ao que acontecia porque queriam, "não era uma alienação proposital, mas sim uma alienação que se dava devido ao contexto de vida delas. A maioria das minhas personagens viviam em lugares extremamente remotos. Então, não tinha como essa informação chegar até elas".
Outro aspecto importante é observar o contexto informacional do período. Era "um momento em que a circulação de informações se dava via impresso, via rádio, e a TV estava chegando no Brasil, e ainda como um aparelho caro, então eram poucas as pessoas que tinham o acesso a essas informações", comenta Máira. "Quem morava nas antigas capitais via a capa dos jornais nas bancas, então você conseguia se informar sobre o que estava acontecendo", completa.
A professora Máira destaca também a importância da escolarização nesse processo, "da escolarização no acesso que as mulheres têm à vida pública, ao entendimento e conhecimento do mundo. Como o ir para escola já é um diferencial, já abre outros caminhos, outras possibilidades".
Assista ao programa completo:
Pesquisa aí!
Em sua primeira temporada o Pesquisa Aí! buscou aproximar o campo de pesquisa com a sociedade debatendo questões de gênero e diversidade. Você pode conferir os outros episódios na Rádio Uninter.
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