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O melhor do jornalismo é entrar na história das pessoas, afirma Lucas Sarzi

"Quando escolhi o jornalismo, já não tinha mais dúvidas do que eu queria para a minha vida", afirma de forma apaixonada o repórter Lucas Sarzi. Formado em 2012 pela UniBrasil, Sarzi passou por redações emissoras como Band e SBT, além de rádios como a Difusora AM. Profissional multifunção, Sarzi também atuou em assessoria de imprensa, desenvolvendo serviços de relacionamento com a mídia, de criação de material para redes sociais e impresso, além de reportagem e produção de programas de TV.

Desde 2014 é repórter do jornal Tribuna do Paraná do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM) e um dos jornalistas mais profícuos e badalados nas redes sociais do veículo. Sarzi é o entrevistado desta quinzena da série Fala Jornalista!, do Portal Mediação. O projeto traz o perfil de jornalistas com dicas e relatos de experiências sobre a profissão. Já passaram pelo portal nomes como Wilson Soler, Marcos de Patto, Daiane Andrade, Rogério Galindo, Marcus Reis e Amanda Audi. Confira a entrevista a seguir.

Por que o jornalismo?

Quando escolhi o jornalismo, já não tinha mais dúvidas do que eu queria para a minha vida. Tudo começou com amigos que fiz ainda adolescente e que trabalhavam na RPCTV. Vê-los trabalhando era a confirmação de tudo que eu tinha de curiosidade e pude, a partir deles, formar o que eu pensava sobre quem eu seria no futuro. A partir destas três pessoas, duas apresentadoras e um diretor, me interessei cada vez mais pela profissão e pela importância que tem o jornalismo. É muito mais do que simplesmente uma notícia.

Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?

Ainda na época da faculdade, comecei a perceber o quanto o jornalismo pode mudar vidas. Não só na questão social, mas de modo geral mesmo. Na questão social, tive a chance (ou várias), de participar de reportagens que tinham um único objetivo: o de ajudar alguém. Nós nem sabemos o quanto uma simples ligação para uma reportagem pode interferir num tratamento atrasado de uma pessoa, numa conquista de vaga num leito de hospital, entre muitos outros fatores.

Quando era estagiário na Band Curitiba, não só me sensibilizei com uma matéria de uma família que precisava de ajuda, como acabei me envolvendo (minha mãe, diretamente) na situação e ajudamos. Mais tarde, quando já era repórter, na Rádio Difusora, um dos casos mais emblemáticos para mim foi o de um rapaz, que tinha uma doença gravíssima e que se não passasse pelo tratamento com urgência poderia morrer.

Conseguimos o tratamento para ele e hoje ele me chama de ‘anjo’ que o salvou. Isso é recompensador. É ter a certeza de que todo o esforço vale sempre a pena. Atualmente, com matérias mais leves como a parte cultural, realizar sonhos (ainda que poucos) de pessoas que querem conhecer seus ídolos também tem um peso muito importante. O jornalismo, de modo geral, me fez olhar para mim mesmo com outros olhos.

"Ainda na época da faculdade,

comecei a perceber o quanto o jornalismo

pode mudar vidas."

Qual o conselho você daria ao Lucas estudante de jornalismo?

Acho que fui muito bem aconselhado antes de entrar na faculdade. Tinha a noção de que não seria fácil, mas que se investisse em mim e lutasse pelos meus objetivos, conquistaria. Se eu pudesse dizer alguma coisa ao Lucas estudante, seria pedir calma. No passado, não entendi muitas coisas que aconteceram, que hoje entendo perfeitamente e percebo que se não fossem estes acontecimentos (ruins, claro), eu não teria hoje a visão de que tudo foi necessário para chegar até aqui. Falta muito ainda, mas sou feliz.

Qual o desafio das faculdades de jornalismo hoje?

O desafio das faculdades de jornalismo hoje em dia é bem pior do que antes. As novas mídias de ontem, hoje são as mídias atuais. A forma de fazer jornalismo mudou muito e tem passado por constantes transformações. Nós precisamos que a faculdade tenha professores que estejam junto com essas transformações, que passem por este dia-a-dia e não fiquem somente focados em teoria. Muita coisa do que vi na faculdade não me é útil hoje em dia e sinto falta de ter aprendido um pouco mais a prática.

Ainda assim sei que a instituição que me formou me deu, no passado, um horizonte muito maior do que muitas outras faculdades dão aos seus alunos hoje em dia. Sou a favor de professores que estejam na área: seja no rádio, numa redação de jornal, na TV, num site ou com assessoria de imprensa, mas que estejam também atuando com o jornalismo para saber ensinar na prática o que dizem, não só com teoria. Porque até a teoria hoje em dia tem mudado. E ah!: os professores precisam ensinar que, cada vez mais, é necessário que o jornalista de hoje em dia pense de forma multimídia. E que não escreva para si e sim para os outros.

"A forma de fazer jornalismo mudou muito

e tem passado por constantes transformações"

O melhor da profissão:

O melhor do jornalismo é o contato com as pessoas, é a falta de rotina, é entrar (literalmente) em histórias (das mais tristes às mais bonitas). É mudar a vida de pessoas.

O pior da profissão:

O ego dos jornalistas. Não existe parceria completa no mundo jornalístico, as pessoas estão sempre querendo passar por cima uma das outras, isso acaba desmotivando muita gente. Além disso, nem sempre saber de tudo o que acontece também é bom para a cabeça, mas é uma escolha e com o tempo a gente aprende a filtrar: saber que não somos Deus e que não temos o poder de melhorar tudo sempre.

Quem são os teus ídolos no jornalismo?

Ricardo Boechat morreu, mas será sempre o meu preferido. Além dele, Caco Barcellos e Eliane Brum. Era em quem eu me espelhava no jornalismo como um todo. Na parte cultural, serei sempre fã de Nelson Motta e Zeca Camargo, duas grandes referências.

Qual a melhor reportagem?

Essa é uma das coisas que nós jornalistas precisamos aprender: nosso trabalho tem prazo de validade, portanto, todos os dias teremos que começar tudo sempre do zero. Por melhor que você tenha feito uma reportagem ontem, hoje vai ter que fazer mais uma. Acho que é por isso que não consigo elencar uma ‘melhor reportagem’. Todas são especiais, algumas mais, claro.

O que não pode faltar na mochila de um jornalista?

Levo sempre comigo um bloquinho de papel, caneta, celular bem carregado (e se puder, um carregador portátil). Um pacote de bolacha também não dá para deixar de lado, porque você nunca sabe se naquele dia vai conseguir comer no horário.

O melhor amigo do jornalista é…

O melhor amigo do jornalista é a habilidade dele em saber lidar com as mais diferentes situações. A ética é fundamental na profissão. Indiferente do seu ponto de vista sobre determinada situação.

"O melhor amigo do jornalista

é a habilidade dele em saber lidar

com as mais diferentes situações"

O jornalismo vai acabar?

Se eu pensar que o jornalismo vai acabar, estou indo contra meus próprios princípios e, de certa forma, a minha própria existência, não? Por isso, luto todos os dias para que o bom jornalismo, o sério, não morra.

Por que o jornalismo importa?

O jornalismo não tem o poder de mudar o mundo, como muitos estudantes pensam, mas sim a capacidade e a missão de mostrar ao mundo os acontecimentos e fatos da vida real. É dessa forma que abrimos os olhos da sociedade, com informações que podem sim interferir na vida das pessoas.

Lugar de jornalista é…

Na rua, sempre. Ou quase sempre. Na redação, quando precisar, mas é na rua que se consegue as melhores pautas.

Se não fosse jornalista seria…

Sinceramente, não sei. Já me fizeram outras vezes essa mesma pergunta e eu nunca soube responder. Acho que não teria profissão que me encaixasse não.

Um recado para os futuros jornalistas:

A profissão não é das mais compensadoras financeiramente, você dificilmente vai ser uma “Fátima Bernardes” ou um “William Bonner”, mas não é isso que realmente importa. Lute pelos teus objetivos, não desista no primeiro e nem no 20º não. Busque não copiar, mas sim ser mais do que os que você se espelha. E, principalmente, não fique preso a velhos valores e ensinamentos, permita que a tecnologia te deixe ser um profissional melhor. Não desista.

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