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Idealistas em tempos de ceticismo: um relato sobre o acampamento Lula Livre


Militantes discursam a favor de Lula (Crédito: Gabriel Mafra)

Desde que o "acampamento e Vigília Lula Livre" se instalou em Curitiba, eu sentia a curiosidade de conhecer, mas, também ficava com um certo "medo", pois não sabia o que encontraria por lá. Moro próximo ao local, e por vezes fiquei instigado a ir, mas exitei e deixei passar a oportunidade, apesar dos fatos estarem acontecendo no "quintal da minha casa". Precisava de um motivo para ir. Até que recebi um convite de uma visita ao local, organizada pelo Sindicato dos Jornalistas, agora, não tinha mais desculpas para não conhecer.

O dia chegou e a expectativa era grande. Fui diretamente conhecer a "Casa da Democracia", local onde é transmitido o programa "Democracia em Rede", o qual tive a oportunidade de acompanhar. O programa transmite notícias do cotidiano do acampamento e a pauta do dia eram as caravanas de ônibus que chegam de diferentes lugares.

Após acompanhar o programa, fui convidado a fazer um "mini tour" pelo lugar. Subi uma rua em direção ao prédio da Polícia Federal até chegarmos no "centro" do acampamento, apelidada de Praça OIga Benário. Constatei que a movimentação de pessoas era intensa. A maioria estava vestida com camisetas de movimentos sociais, um tipo de "uniforme" para os militantes.

Enquanto estive por lá, escutei conversas com sotaques variados, já que as caravanas chegam de todos os cantos do país. Desde o nordestino desprevenido, sem roupas de frio, até o gaúcho. que chega preparado e tomando seu chimarrão quentinho. Para auxiliar quem chega despreparado, vi uma barraca de doação de roupas, além de dois brechós que vendem peças com preços bem acessíveis. Além disso, são vendidos itens dos movimentos sociais, como camisetas, bonés, broches e muitas camisetas estampadas com o rosto de Lula.

Descobri que dá até até para fazer acupuntura no acampamento! E os cuidados com saúde não param por ai. Os participantes oferecem monitoramento de pressão, de temperatura corporal, além de uma mini-farmácia com alguns remédios.

Na tenda que recebe doações de comida, encontrei Zenilda, uma senhora do norte do Paraná, militante desde 2007, e que está no acampamento desde o primeiro dia. "Não saio de lá até o fim do ato", diz.

Conversei por um bom tempo com ela, que me explicou como funciona a estrutura de alimentação do local. Ela é quem controla toda a logística que abastece os três pontos de cozinha espalhados pela vigília. Diariamente ela recebe as demandas de cada ponto, como uma lista de supermercado mesmo, e a partir daí distribui os alimentos para atender as necessidades.

Perguntei a Zenilda o porquê dela estar ali, e se ela recebia dinheiro para estar acampada, "Eu não recebo dinheiro. O que eu ganho aqui é minha contribuição como militante. A minha tarefa é defender a democracia e defender o comandante que está preso. Para nós é indiferente de partido. Ele não é do PT, o Lula é do povo brasileiro." disse convicta.

Alguns podem achar que o acampamento tem gerado uma série de perturbações aos moradores da região, mas não é bem assim. Para evitar transtornos, os organizadores realizaram isolamentos para que as pessoas não fiquem próximos as entradas das casas.

Os discursos efusivos defendo a liberdade do ex-presidente ecoavam pelas ruas do bairro. Os atos diários de "bom dia" e "boa noite" ao "presidente" Lula demonstram a paixão pela figura do petista. Eles tem convicção na inocência do ex-presidente, por isso estão dispostos a estarem ali todos os dias, alojando-se em condições precárias, sofrendo com as baixas temperaturas da capital mais fria do país. Em tempos de desilusão com a política e com as instituições, a defesa de um ideal parece muito presente na vida dos seguidores de Lula.

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