Informações dadas ao G1 pelo diretor do Movimento Estadual de população em situação de rua, Robson Correia, mostram que, em julho de 2021, 13 moradores de rua morreram de frio na cidade de São Paulo. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a população em situação de rua aumentou 38% no Brasil entre 2019 e 2022, atingindo a marca de 281.472 pessoas.
Cidadãos invisíveis na sociedade não só sofrem de fome e frio como são discriminados e excluídos à margem da dignidade. Além de todo preconceito e marginalização que sofrem, são diariamente culpabilizados pelo próprio estado em que estão. O nome disso é meritocracia, conceito tão popular na atual pós-modernidade, mas que contribui para perpetuar a desigualdade social responsabilizando o indivíduo pelo seu sucesso ou fracasso, já que para se obter sucesso precisa apenas de iniciativa e esforço.
Entretanto, a história nos mostra que, para se obter vitória, precisa ter oportunidades, talento, recursos emocionais e, principalmente, berço. Em uma sociedade tão desigual como o Brasil, naturalizar o sucesso e responsabilizar o sujeito como único responsável por si mesmo, é minar as possibilidades de inclusão e criação de mais políticas públicas.
Aos moradores de rua, excluídos a própria sorte, cabe aceitar seu destino ou lutar e trabalhar para melhorar de vida, mesmo sem oportunidades, sem estudos, sem comida, sem casa e morrendo de frio. A situação fica ainda mais dramática quando famílias inteiras ficam em situação de rua, com crianças e adolescentes. Muitas vezes não há vagas para dormir nos abrigos, sendo obrigados a pernoitar no relento. Paradoxalmente, outros cidadãos, principalmente da classe média reacionária, que dormem em seus lençóis de 1000 fios, reforçam em suas ações e em discursos meritocráticos que a condição social e racial não são motivos para não ter sucesso profissional e financeiro. A meritocracia, portanto, é uma falácia que precisa ser combatida urgentemente nos discursos e na prática.
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