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Bilhetagem eletrônica coloca em xeque o trabalho de mais de 6 mil cobradores


Projeto de lei permite bilhetagem eletrônica em toda a cidade (Crédito: Ivone Souza)

Em Curitiba, um projeto de lei (PL) que tramita na Câmara de Vereadores prevê a implantação da bilhetagem eletrônica em todo o sistema de transporte público. Enviado ao legislativo pela prefeitura, o projeto, caso seja aprovado, pode colocar em risco o emprego de mais de seis mil cobradores. Dentre as justificativas, o executivo municipal destaca a diminuição do custo da passagem com a redução dos cobradores. A passagem da capital paranaense é cotada como uma das mais caras do país, segundo a Associação Nacional das Empresas de transportes Urbanos (NTU).

Na prática, o projeto de lei busca alterar o texto antigo da lei municipal, que exige cobradores no transporte coletivo, estações tubo e terminais de transporte. Aprovada, a nova redação regulamentaria a bilhetagem eletrônica na cidade. Além do custo, a segurança é um ponto destacado pela prefeitura como justificativa, uma vez que “os cobradores são alvo frequentes de roubos e violência no sistema de transporte da capital. Mas em veículos que passaram a usar o modelo de bilhetagem no sistema o número de assaltos caiu em mais de 90%”.

Daniel Aníbal trabalha há três anos na função, e está descrente sobre o futuro da tecnologia. “Acho que eles darão um tiro no pé pois muitos funcionários que serão demitidos irão para os novos aplicativos que tem por aí, aumentando a concorrência para a URBS”, observa Aníbal, para quem o maior prejudicado será o cobrador. “Querem cortar os gastos da pior maneira, que é demitindo os profissionais”, lamenta.

Hoje, a tarifa social paga pelo usuário é de R$ 4,25, Já a tarifa técnica, que é o valor que a empresa recebe, com o subsídio da prefeitura, custa R$ 4,71. De acordo com a prefeitura, os custos referentes aos cobradores representam R$ 0,71 na tarifa técnica.

Em nota, o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) garante que os cobradores não serão prejudicados, e que eles serão remanejados para outras funções após uma requalificação. “O Setransp, preocupado com essa situação, assinou a Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2019 com o Sindimoc garantindo a estabilidade de cobradores por 12 meses e oferecendo a oportunidade de requalificação desses profissionais”, afirma a entidade em seu site.

Para Anderson Teixeira, presidente do Sindimoc, sindicato que representa os trabalhadores, a implantação de prática similar em outras cidades com a mesma justificativa de redução do custo acabou prejudicando os trabalhadores. “No final das contas, se o cobrador sair, a passagem não vai baixar pelo contrário, o prefeito já falou que não tem como não aumentar, além disso esse dinheiro vai entrar como lucro para os donos das empresas do transporte coletivo de Curitiba”, diz.

Caso tenha de fato a redução dos quadros, o impacto negativo na economia será maior ainda que seis mil novos desempregados, é o que alerta o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo socioeconômicos (Dieese), Fabiano Camargo da Silva. "Serão 6 mil pessoas desempregadas e 24 mil pessoas considerando as famílias em um cenário de desemprego elevado, ou seja, impacto sobre o consumo e sobre a renda da região. Em termos salários seriam quase R$ 185 milhões a menos na economia de Curitiba e região, considerando INSS e outros impactos poderia chegar a R$ 213 milhões”, diz.

De acordo com Humberto Pacheco, diretor do Sindimoc, a tecnologia vem para facilitar a vida de todos, porém acompanhado de muitos casos de desemprego em diversas áreas. Além disso, o usuário também sofrerá com o novo sistema. “No transporte coletivo isso causa o cerceamento do direito de o usuário pagar em dinheiro, pois muitas vezes poderá haver problemas com o cartão, sem saldo, etc. Exemplo disso é o caos sofrido pelos munícipes e trabalhadores que laboram na cidade de São José dos Pinhais onde não há cobrador”, comenta.

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